CONSER­VAÇÃO E MUDAN­ÇA CLIMÁ­TICA

Estudar o passado e o presente de uma das florestas mais diversas e mais devastadas do mundo pode nos ajudar a pensar em como conservá-la para o futuro.

União das ciências para prever o futuro da Mata Atlântica

Como os animais e plantas da Mata Atlântica vão responder às atuais mudanças climáticas e desmatamento? Para responder a essa pergunta, são necessárias informações de diferentes áreas do conhecimento. Por isso, o projeto AF Biota reuniu pesquisas das áreas de evolução 💬, genética de populações 💬, fisiologia 💬, geografia 💬, geologia 💬, paleontologia 💬, filogenética 💬 e sensoriamento remoto 💬.

Para esclarecer como as mudanças do ambiente do passado afetaram as plantas e os animais da Mata Atlântica, o primeiro passo é entender se esses eventos já aconteceram no passado e quais foram as suas consequências.

O estudo de cavernas é uma importante ferramenta nesse processo de investigação, pois lá ocorrem os espeleotemas, formações rochosas que se formam no chão e no teto das cavernas, geralmente em formato de cone. Estudando essas estruturas os geólogos podem entender como foi o clima daquele local ao longo de milhões de anos.

Ao entender o clima do passado, é possível prever melhor como pode ser o clima no futuro. No passado recente - cerca de 180 mil anos atrás até hoje - ocorreram dois períodos glaciais. E entre esses períodos, a temperatura média da Terra aumentou. Apesar desse aquecimento ter sido bem mais lento (ao longo de cerca de 50 mil anos) do que o que está acontecendo agora, no aquecimento global que vivemos hoje, a comparação ainda é útil para as hipóteses e previsões de como será o futuro do nosso planeta.

Unindo as previsões climáticas com o conhecimento de como as espécies de animais e plantas responderam a mudanças climáticas no passado, é possível extrapolar e tentar prever como elas podem responder às mudanças climáticas atuais.

Por exemplo, com o aquecimento global ocorrerá o derretimento das geleiras e como consequência o nível do mar poderá aumentar. Isso pode levar ao alagamento de áreas próximas ao litoral, como grande parte da área ocupada pela Mata Atlântica. Com isso, o mar pode invadir as regiões mais baixas e isolar as regiões mais altas, criando ilhas onde antes eram montanhas. Esse processo pode separar populações de organismos. Isso pode tanto gerar novas espécies quanto extinguí-las ou diminuir sua diversidade.

A reconstrução da história da Mata Atlântica permite definir quais áreas desse bioma devem ser priorizadas no trabalho de conservação e listar quais grupos de seres vivos estão mais ameaçados de extinção.

Por exemplo, os opiliões, aracnídeos que habitam cavernas e assoalhos na Mata Atlântica, podem dar pistas de como conservar esse bioma. Ao mapear a presença desses seres, é possível concluir que nenhuma área de floresta é exatamente igual à outra. Por exemplo, áreas do nordeste da Mata Atlântica possuem composições muito diferentes de espécies de opiliões em comparação com áreas mais ao sul desse mesmo bioma.

Com isso, uma das recomendações dos estudos do AF Biota é que, para garantir a conservação da diversidade dessas espécies, a prioridade de conservação seria a de ter um maior número de áreas sendo conservadas, em vez de se preservar uma única e grande área.

Conhecer um bioma tão diverso como a Mata Atlântica é um trabalho que exige conhecimento de todas as partes que compõem esse sistema tão complexo. Os estudos interdisciplinares do AF Biota são importantes ferramentas para compor esse quebra-cabeças que é a Mata Atlântica, sua história, suas espécies e seu clima. Com essas informações, podem surgir medidas e propostas realmente eficazes para a conservação e recuperação desse bioma. ○